quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O que propriamente percebemos quando ouvimos música?

Para ser bem objetivo, música! Parece óbvio demais para ser verdade, mas é isso mesmo. Esse estranhamento com uma resposta assim deve-se ao fato de que na Cultura Ocidental estamos por demais habituados a estabelecer uma representação das coisas e não, manter um relacionamento direto com elas. Desse modo, quando inquirido a respeito do que alguma coisa é, parece sempre um absurdo alguém responder, por exemplo, que música é música ou que linguagem é linguagem. Frases como estas logo são taxadas de tautológicas e como tal, desqualificadas como definições que não levam a nada. Na verdade, a estrutura matemática da lógica proposicional requer que façamos, queiramos ou não, um exercício de representação, estabelecendo equivalências ou não entre os seus termos. No entanto, certas definições tais como a da arte (aí se inclui a música), da vida, do ser, etc., de certa maneira sempre soam incompletas em virtude de transcenderem completamente essa estrutura matemática da proposição.

Certamente que podemos definir precisamente o que ocorre quando acionamos um interruptor de luz, ou de qualquer artefato tecnológico, uma vez que este já contém previamente programado todas as suas possibilidades de ser aquilo que é. Poderíamos então afirmar que estes artefatos apresentam uma configuração fechada do e para o mundo. Ora, o mesmo não podemos dizer nem da arte, nem da vida e muito menos do ser como possibilidade.

Por isso, só podemos mesmo aprofundar a afirmação de que a música, em sua vigência de sentido, é ela mesma aquilo que percebemos quando "ouvimos música." Isto de forma nenhuma é redundante, mas diz respeito ao sentido que é próprio e inalienável de cada coisa. Emmanuel Carneiro Leão (Aprendendo a pensar, Vol. II. Petrópolis: Vozes, 1992.) nos ajuda nessa tarefa quando diz que "na música se dá o mais alto grau de realização de qualquer real." O que é isto – realização do real? Nada mais do que vir à vigência substantivamente, isto é, com o sentido e a densidade do que é próprio de cada vigente. No caso da música, ela possui uma densidade e sentido que lhe são próprios, cuja propriedade se compreende total e plenamente apenas a partir de sua própria vigência con-crescente e não a partir dos diversos discursos a ela periféricos.

Um comentário:

Rainer Sousa disse...

Prof. Werner,

Excelente iniciativa !

Creio que a música é uma forma de expressão tão autônoma quanto a linguagem. Mas ao representar uma via da vida subjetiva (seja do autor ou do público), ela não busca se apoiar nos outros discursos periféricos?

Um abraço !