terça-feira, 2 de outubro de 2007

Livros II


"Não nos enganemos: só nos é possível colocar as questões da arte porque, desde sempre, estamos submergidos na exclamação contínua que a arte, a cada momento, provoca em nós. Perguntar significa, aqui, já ter recebido sua força, já ter se esbarrado com ela, absorvido seu impacto, já ter - mesmo - perdido o chão, deixando as vertigens aparecerem e, estranhamente, elas mesmas construírem um caminho que possa ser percorrido com o rigor da dedicação diária de toda uma vida. Os caminhos que se apresentam neste livro são, assim, os da própria vertigem.

Em um momento ou em outro, as dúvidas, entretanto, sempre existem: arte, exclamação ou vertigem (tanto faz), de que modo abordá-las? De uma distância precavida que, cuidadosamente, busca observá-las e compreendê-las em seus mínimos detalhes? De um corpo-a-corpo que, como numa luta de boxe, requer a distância apenas como uma perspectiva para o melhor ângulo, mas do que para uma aproximação, para uma mistura de músculos e suores? De uma intimidade completa, na qual, exauridas as distâncias, possa emergir, de fato, uma indicernibilidade radical?

De uma coisa não temos dúvidas: pensar as questões da arte envolve colocar o próprio pensamento em questão, descobrindo-o decisivamente, em maior ou menor grau, também como artístico. Na abertura do século XXI, o pensamento teórico e artístico estabeleceram de tal maneira uma simpatia que não se pode mais pensá-los antiteticamente: a força de atração mútua é sentida por quem quer que se aproxime deles, praticamente anulando, ou, em outras palavras, minimizando-a ao máximo, a força solitária de repulsão.

Ao invés de realizar o anulamento de um dos pólos, tal simpatia provoca o desdobramento de diversidades criativas que, a partir dela, podem eclodir. Entre inúmeras maneiras de se colocar a arte em questão, duas se sobressaem: a indagação direta das próprias obras artísticas e a indagação do modo filosófica de pensar a arte. Ao formular o círculo de conferências que originou este livro, Manuel Antônio de Castro, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Letras (Ciência da Literatura), da UFRJ, escolheu, desta vez, a segunda opção.

A arte em questão: as questões da arte propõe, assim, um passeio reflexivo por diversos momentos filosóficos da história do Ocidente: do mito, passando por Platão e Aristóteles, seguin do o percurso comFichte e Nietzsche, até chegar ao século XX com Heidegger, Gadamer, Benjamim e Deleuze. Tal arco do pensamento, dos de maior excelência e importância possíveis, foi realizado, respectivamente, pelos seguintes professores e pesquisadores brasileiros: Werner Aguiar, Alberto Pucheu, Emmanuel Carneiro Leão, Ronaldes de Melo e Souza, Antonio Jardim, Manuel Antônio de Castro (organizador do livro), Luis Rohden, Ivo Lucchesi e Marcelo Jacques de Moraes."

Alberto Pucheu