No post anterior sobre esse assunto (13/09/07) ficaram algumas perguntas no ar. Tudo bem, sabe-se que a cultura científica predomina em todo empenho de formação educacional no ocidente e sabe-se também, e por isso mesmo, que a ciência possui um apelo quase que irresistível. Por isso, não só a educação é em geral voltada para uma formação desde os seus pressupostos, mas atividades tão abrangentes como, por exemplo, a mídia de massa, enfatizam e propagam uma concepção científica do real, incorporando-a ao cotidiano de todos.
Discussões disciplinares em música articuladas com a poética e a filosofia, mas também com a linguagem, mito etc.
domingo, 30 de setembro de 2007
Música e funcionalidade II
domingo, 23 de setembro de 2007
Livros I

“O presente livro reúne um grupo de pesquisadores que têm em comum as questões poéticas do real, longe dos jargões conceituais da metafísica. Para tanto se movem nas dimensões enigmáticas da proximidade de poesia e pensamento. Mas isso constitui um grande desafio, porque o linguajar conceitual metafísico tornou-se um uso ordinário sem face. Em todos se faz presente a tarefa de questionar e pôr em questão o mistério do extraordinário. Nisto consiste a originalidade do grupo de pesquisa e dos presenstes textos. E deles brota o convite à leitura questionante e reflexiva, pois aqui não há chave conceitual para abrir o acesso à construção poética do real/ser. Só como caminho e a caminho das questões.


Os diferentes discursos se agrupam em duas partes do livro. À primeira chamamos percursos, porque nos ensaios se perceberá facilmente o assédio às questões que nos questionam de diferentes flancos e níveis: os per-cursos. À segunda denominamos incursos, porque se perfazem diá-logos poéticos, onde pensamento e poesia se presentificam como presentes para os leitores. Isso para que se faça presente em cada leitor o apelo de diálogos diferentes e inaugurais com as obras.”
Música e funcionalidade I
Lembro de uma ocasião há anos atrás em que fiquei extremamente irritado com uma discussão a respeito desse assunto durante o meu mestrado. A irritação provinha do inconformismo de que a música só pudesse ter valor se fosse justificada por sua função e, conseqüentemente, por um valor atribuído desde uma instância exterior à ela mesma, desde uma dessas áreas de conhecimento "mais aparelhadas e mais competentes" técnica e cientificamente. Afinal de contas, por que aquilo que considerávamos (e, pelo menos, eu ainda considero) como o que dá sentido ao nosso ser e modo de realizar-se (pelo menos o dos músicos) precisa de uma referência externa de validação? Por que, em se tratando de arte, há tanta necessidade de se determinar os princípios científicos de seu funcionamento? Por que os princípios artísticos nunca nos parecem ser suficientes?
Inicialmente, encontro uma possibilidade de interpretação desse tipo de situação a partir de um texto do Professor Emmanuel Carneiro Leão: "A nossa era é científica em sua essencialização. Vivemos a idade da ciência porque é a ciência que determina o ser e a verdade do real. (...) A ciência é hoje a forma que informa toda a nossa compreensão e avaliação da realidade, independente e qualquer que seja nossa atitude frente a esse ou àquele resultado científico. Quer atribuamos à ciência um valor humano, quer lho neguemos, quer vejamos nela apenas algo indiferente para os valores, a ciência determina sempre o sentido do ser que somos e do ser que não somos. Decide a concepção de verdade em que vivemos, nos movemos e existimos.”[1] Desse modo, nossa visão da música e da arte não se encontra distanciada dessa realidade do atual momento do ocidente. Ao contrário, a visão científica do real encontra-se disseminada desde os primeiros anos escolares até e principalmente às Pós-Graduações. É muito tempo para in-formar uma determinada concepção não só do real, mas da verdade (que será objeto de outro post).
Assim, desde uma concepção cientificamente in-formada do real levada a cabo pela educação, cujo valor do que é ou do que não é se decide de antemão pelo cálculo, a funcionalidade cumpre o papel de assegurar que o real se comporte desta ou daquela maneira. Portanto, nada mais plausível do que estabelecer a funcionalidade como o parâmetro supremo de validação de toda e qualquer realidade em plena con-formidade com o princípio científico de aferição do real a que todos nós somos desde muito cedo in-formados.
Mas, será que a realização musical (ou artística) pode ser circunscrita a uma funcionalidade pré-estabelecida? Será que em se tratando de música (e arte) a funcionalidade pode realmente prever e pre-determinar os modos próprios e característicos de sua realização?
[1] Leão, Emmanuel Carneiro. Filosofia na idade da ciência.In: Aprendendo a pensar, Vol. I, p. 11-2. Petrópolis: Vozes, 1977.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Qual seria a maneira adequada de se ouvir (fazer) música?
Quietos? Atentos? Comportados? Conhecendo as obras previamente através de leituras e aná-lises? Articulando as intenções do compositor e as circunstâncias de criação de seu tempo, daquilo a que estamos acostumados chamar de estilos de época? Pasme... creio que não! Pois tudo isso, por mais instrutivo e culto que possa parecer se encontra sempre aquém ou além do que a própria música é e manifesta, bem como do que a arte em geral é e dá a conhecer. Pois, ser que se manifesta é o ato supremo de toda realização e não um simples pre-tender ser.
A música (e a arte) não é, nem se faz num ato exclusivo do conhecimento de um conjunto de códigos, regras e procedimentos com os quais se possa pre-tender garantir de antemão a efetuação de uma obra musical (artística). Se assim fosse, compor ou ouvir qualquer obra musical seria algo plenamente calculável, isto é, assegurado de antemão pela pura e simples aplicação das normas de procedimento. Seria algo tão corriqueiro quanto dirigir um carro ou andar de bicicleta, em que pese o fato de nós brasileiros, tão afeiçoados às mais diversas normas e códigos desde muito cedo na escola (afinal vivemos num país cujo lema é “ordem e progresso”), não respeitarmos enquanto sociedade os procedimentos mais básicos do trânsito. E, no entanto, compor e compreender música, ou qualquer arte, só não é algo “mais corriqueiro” em virtude de que somos por demais educados desde as perpectivas das normas e alienados desde os mais diversos procedimentos (leia-se: metodologia) de todo e qualquer fazer.
Ora, o conhecimento dos códigos e das normas de realização se relaciona sempre com o que já passou, com o que já foi feito. No entanto, “toda obra de arte é como uma palavra que é dita uma só vez, e não pode ser repetida.”[1] E por que não? Para responder é simples: imagine Da Vinci pintar de novo a Mona Lisa. Que tal Beethoven compor novamente a 5ª. Sinfonia? Absurdo, não? Sendo a obra a pura manifestação do anseio de realização de um porvir, isto é, do novo, ela não se curva, nem se atém às normas de procedimento. Quantos não são os exemplos que comprovam o empenho dos compositores em transcender toda e qualquer norma de procedimento para instaurar nas e pelas obras um novo aceno de realização, um novo aceno de ser? Não fosse isso, se seguíssemos sempre as normas de procedimentos e a metodologia consgrada deste ou daquele fazer, talvez ainda estivéssemos compondo canto gregoriano ou coisa que o valha! Nada contra o gregoriano, que pessoalmente adoro. Mas, quanta coisa ficaria de fora! Quanta possibilidade de realização e de ser!
Assim, na perspectiva de um horizonte entulhado e obscurecido por códigos, regras e procedimentos é que até mesmo as escolas de arte estão cheias de operacionalizações matemáticas de conteúdos que se somam e se multiplicam indefinida e indistintamente, impondo a mais intensa sanha de re-produção do conhecimento passado e acabado, muito pouco afeitas e abertas ao co-nhecimento (co-nascere) do futuro, isto é, da criação.
Portanto, a pergunta a respeito da maneira adequada de ouvir (fazer) música, sem querer me alongar na discussão desse “adequado”, digamos, é a maneira que a própria música nesta ou naquela obra por si mesma im-põe. Para tal, em primeiro lugar, precisamos ser todo ouvidos, algo cada vez mais difícil num tempo desmedidamente excessivo de informação e conhecimento. Pois a coisa é mais ou menos como diz Manoel de Barros:
A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá
Mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá.
Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.
Os sabiás divinam.[2]
Desse modo, um possível passo para que possamos realmente nos permitir ouvir a música nas obras talvez seja abrir mão das mais diversas e ruidosas fontes de informação, códigos de conduta e de procedimentos e nos despojarmos um pouco do nosso conhecimento prévio do mundo, isto é, dos nossos pré-conceitos. Abaixo a re-produção! Criatividade já!
[1] Emmanuel Carneiro Leão, Aristóteles e as questões da arte. In: A arte em questão: as questões da arte. Manuel Antônio de Castro (org.). Rio de Janeiro: 7Letras, 2005.
[2] Manuel de Barros, Livro sobre o nada. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2000, p. 53
domingo, 9 de setembro de 2007
Autonomia da Música
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Desaparecimento da linguagem, desaparecimento do ser...
Publicado na Folha On-Line em 16/02/2004
Quase metade das línguas estará extinta em 100 anos, dizem cientistas
MARIANA TIMÓTEO DA COSTA
da BBC, em Seattle
Cerca de 40% dos idiomas falados hoje no mundo desaparecerão entre os próximos 50 e 100 anos, alertou um painel de lingüistas durante o encontro anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência, na silga em inglês), que acontece em Seattle. Segundo os cientistas, o fim de boa parte das 6.809 línguas faladas no planeta não só trará impactos culturais como também conseqüências econômicas. "Veremos uma extinção de línguas milhares de vezes mais acelerada do que a extinção das espécies", disse o lingüista Stephen Anderson, da Universidade de Yale. As razões principais para o desaparecimento dos idiomas, de acordo com os lingüistas, são a dominação econômica e cultural e a explosão demográfica. "Hoje, o império americano fortalece o inglês (primeira língua mais falada do mundo como segundo idioma, e segunda mais falada como primeiro) e a explosão demográfica da China torna o chinês o idioma mais falado do mundo como primeira língua", afirmou Anderson.
Sibéria
Um dos exemplos mais interessantes sobre o desaparecimento de idiomas foi dado por David Harrison, lingüista do Swarthmore College, na Pensilvânia. Em julho do ano passado (2003), o cientista realizou uma expedição à Sibéria e constatou que duas línguas amplamente faladas pelos pescadores e criadores de animais da região hoje contam com menos de 40 seguidores. Eles simplesmente estão trocando as línguas, chamadas Tofa e Chulym, pelo russo. "É mais fácil eles se comunicarem com os demais siberianos com o russo. Mas registramos uma perda de identidade forte nesses povos, já que as antigas línguas têm formas particulares de designar atividades pesqueiras e com os animais. Isso ficará perdido para sempre", contou Harrison.
Outro exemplo são tribos na África e na Amazônia. Segundo os cientistas, com a extinção de línguas menores, atividades econômicas poderão ficar comprometidas porque esses povos têm um conhecimento da região que está associado ao nome que dão a plantas, rituais e animais. "No caso das plantas, uma indústria farmacêutica que quiser pesquisar novos princípios ativos nas florestas pode ter dificuldade em encontrar alguma coisa com a ajuda da população local", exemplificou Anderson. Os cientistas, no entanto, acham que pode se fazer pouco para evitar essa extinção. O painel reunido em Seattle concordou que o dever da ciência é documentar o quanto puder essas línguas para que elas não sejam apagadas da história. Mas, apesar das adversidades, os lingüistas foram unânimes em dizer que o mundo não caminha para uma língua universal, como o Esperanto. "Não corremos esse risco. Mesmo que haja uma língua dominando o mundo, em um período de dez anos ela sofrerá várias mudancas em diferentes países e culturas, e uma outra língua acabará sendo criada. A linguagem humana é bastante dinâmica", concluiu David Lightfoot, da Universidade de Georgetown, em Washington.
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
O que propriamente percebemos quando ouvimos música?
Para ser bem objetivo, música! Parece óbvio demais para ser verdade, mas é isso mesmo. Esse estranhamento com uma resposta assim deve-se ao fato de que na Cultura Ocidental estamos por demais habituados a estabelecer uma representação das coisas e não, manter um relacionamento direto com elas. Desse modo, quando inquirido a respeito do que alguma coisa é, parece sempre um absurdo alguém responder, por exemplo, que música é música ou que linguagem é linguagem. Frases como estas logo são taxadas de tautológicas e como tal, desqualificadas como definições que não levam a nada. Na verdade, a estrutura matemática da lógica proposicional requer que façamos, queiramos ou não, um exercício de representação, estabelecendo equivalências ou não entre os seus termos. No entanto, certas definições tais como a da arte (aí se inclui a música), da vida, do ser, etc., de certa maneira sempre soam incompletas em virtude de transcenderem completamente essa estrutura matemática da proposição.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Para começar...
Uma
Apesar da separação dessa unidade implicar na destituição da
[i] Ronaldes de Melo e Souza, A
[ii] Cf. Martin Heidegger, Ensaios e